No começo do mês passado houve a morte de varias cabeças de gado em um confinamento, após testes ficou comprovado como causa da morte a ingestão de alimento contaminado.
Esse é um caso relativamente novo na imprensa brasileira não é comum que esse tipo de notícia, mas o que eles não informam, é do que se trata essa toxina, onde ela está presente e como ela se manifestou durante o processo de silagem. Abaixo vamos explicar de forma simples o que é essa toxina e como ela pode se manifestar na ração animal.
Botulismo
O botulismo é definido como uma intoxicação, e não como uma infecção, causada pela ingestão ou absorção, por parte da mucosa intestinal, de toxina pré-formada da bactéria Clostridium botulinum, resultando em um quadro de paralisia motora progressiva.
As condições que permitem o seu crescimento e sobrevivência são as seguintes:
#Temperatura:
As gamas de temperatura de crescimento são diferentes para os vários subgrupos de C. botulinum. Vamos focar nas estirpes pertencentes ao subgrupo III referente à toxina tipo C e D que foram as identificadas nas análises de laboratório. Elas conseguem crescer em ambientes com temperaturas mínimas de 15ºC e tem uma temperatura ótima de crescimento de 40ºC.
As toxinas produzidas por todos os subgrupos são destruídas nas seguintes condições: 80ºC durante 20 a 30 minutos, 85ºC durante 5 minutos, ou 90ºC durante alguns segundos. As células vegetativas, os esporos e as toxinas de C. botulinum não são destruídos pela congelação.
#pH
Para C. botulinum do subtipo I o pH mínimo de crescimento é 4,6, enquanto que para o subtipo II este valor de pH é 5,0. Não foram determinados os valores mínimos de pH para que ocorra o crescimento dos subtipos III e IV. Ou seja esses podem variar de acordo com as condições do ambiente e o local onde a toxina ou os esporos estão alojados.
#Atividade da água (aw)
É geralmente aceito que é necessária uma aw mínima de 0,935, resultante de concentrações de NaCl, KCl, glucose ou sacarose de 10% para evitar o crescimento das estirpes de tipo I, e uma aw de 0,970, resultante de concentrações de 5% dos mesmos solutos para as estirpes do subgrupo II. No caso do soluto ser glicerol, a inibição do crescimento destas estirpes só ocorre para valores de atividade da água inferiores.
#Relação com o oxigênio
C. botulinum é uma bactéria anaeróbia. No entanto, a embalagem com oxigénio não é considerada suficiente para impedir o seu crescimento, pois poderão existir no interior dos alimentos zonas de anaerobiose (ausência de Oxigênio) onde possa ocorrer o desenvolvimento do organismo e a produção de toxina.
Como identificar a doença nos animais
Nos estágios iniciais, a doença causa fraqueza muscular seguido de paralisia muscular, afetando inicialmente os quartos traseiros, e progredindo para os dianteiros, cabeça e pescoço. Os músculos da língua e do queixo são frequentemente afetados. Os sintomas apresentados por dificuldade de locomoção, com incoordenação motora dos membros posteriores e o ato de deitar é feito bruscamente e de forma descontrolada.
O animal tem dificuldade de levantar e caminhar mesmo quando é forçado a isto, posteriormente, ele deita-se e não consegue mais se levantar. Sua morte ocorre em pouco tempo. Podem ainda babar e mastigar o alimento por longos períodos e não conseguirem engolir. Os animais ficam desidratados por não conseguirem beber água normalmente e nos quadros agudos, o bovino caminha para o óbito dentro de um a dois dias, após surgirem os sintomas, sendo normalmente causada pela parada respiratória devido à paralisia dos músculos que coordenam os movimentos respiratórios.
O Clostridium botulinum (tipos C e D) é o bacilo anaeróbio causador da doença. Pode ser encontrado na forma de esporo no solo, na água e no trato intestinal dos animais. As carcaças em decomposição apresentam condições favoráveis de anaerobiose para o desenvolvimento do Clostridium botulinum e para produção da toxina botulínica, devido à putrefação.
As fontes de contaminação mais comuns são:
-Osteofagia – ingestão de ossos das carcaças – Feno e silagem estocada juntamente com ossos de pequenos animais (pássaros, gatos, ratos, etc.);
-Camas de frango de má qualidade; – Problemas com a produção e/ou estocagem da silagem depois de pronta; – Águas contaminadas;
-Farinha de osso de má qualidade;
-É possível ainda, contrair a doença através da infecção de um corte ou ferida.
Como evitar o botulismo no gado?
As medidas preventivas mais eficientes do botulismo relacionam-se com a higiene e a correta alimentação.
O controle, principalmente o endêmico, se dá com a correção da deficiência de fósforo no solo, mediante a incorporação desse mineral nas pastagens. Este método é eficiente, porém oneroso.
Assim, é importante que seja feita a suplementação dos animais, corrigindo a deficiência de fósforo, além de proporcionar aumento da produtividade do gado.
Outra medida muito importante é a higiênica, eliminando as fontes de contaminação, como a remoção de carcaças nas pastagens e incineração das mesmas, prevenindo, assim, a multiplicação dos agentes e contaminação do solo com esporos.
Já para a prevenção do botulismo esporádico é importante que você utilize alimentos para o gado que passem por uma inspeção rigorosa, indicando que estes não apresentam esporos. Além disso, é importante que você produza silagens em condições de pH ácido, impedindo a germinação dos esporos que, porventura, possam estar presentes e, consequentemente, produzindo toxinas.
Além da correta produção, é importante que você observe a qualidade do alimento, não utilizando fenos, silagens ou ração estragados.
A vacinação empregada de forma estratégica, principalmente no gado confinado, é a melhor medida preventiva que você poderá fazer uso.
A vacina deve ser fornecida em 2 etapas com 1 mês de intervalo entre elas. Porém vale acrescentar que, como ela necessita de um período de 16 a 18 dias para oferecer proteção efetiva, a recomendação é que a primeira dose da vacina seja feita um mês antes da entrada do animal no confinamento, e que o gado seja revacinado anualmente.
Portanto, se você quiser deixar o botulismo longe da sua fazenda faça, principalmente, um bom manejo, higiene e vacinação do seu gado.
Como fazer e fornecer uma boa silagem?
Silagem é um tipo de alimento muito comum nas fazendas leiteiras. Silagens são primariamente utilizadas devido à facilidade para colheita e baixa perda de nutrientes durante a estocagem. O processo de ensilagem é uma fermentação anaeróbica dos açúcares solúveis em água e sua conversão em ácido lático, abaixamento do pH a ponto que iniba a fermentação microbiana. Entretanto, deve ser lembrado que uma silagem nunca está estática, ou seja, é um alimento potencialmente dinâmico que pode piorar drasticamente em qualidade em certas circunstancias, como na adição de oxigênio.
Características físicas
a) pH – é uma medida de acidez. Silagens de alta umidade são instáveis quanto ao pH. Silagem de boa qualidade está associada com baixo pH, variando entre 3,8 e 4,2 para silagem de milho e entre 4,0 e 4,8 para silagem de gramíneas.
b) Temperatura – é uma medida da quantidade de calor produzida, que pode ser facilmente mensurada com a ajuda de um termômetro. Depois de estabilizado o processo fermentativo, a temperatura deverá ser próxima da ambiente. Temperatura acima da temperatura ambiente sugere respiração oxidativa realizada por mofos e outros fungos. Temperatura acima de 35ºC sugere potencial para danos por calor. Boas silagens não esquentam quando no cocho à disposição dos animais.
c) Tamanho de partícula – a fibra é de fundamental importância na dieta de ruminantes para manter as funções do rúmen e a atividade de ruminação. Partículas muito pequenas podem causar problemas metabólicos, mas por outro lado, tamanho de partícula muito grande reduz o consumo e o desempenho dos animais. No Brasil, com os implementos disponíveis, o objetivo é reduzir ao máximo o tamanho de partícula.
Para quem não acompanhou segue as duas reportagens abaixo: