As FOA (Farinhas de Origem Animal) são alternativas frequentemente usadas, pois asseguram vantagens nutricionais e econômicas na formulação desde que assegurada à qualidade das mesmas. No Brasil, há uma produção de carnes que se aproxima a 20 milhões de toneladas (bovina ~ 8, aves ~ 8, suína ~ 2,5 e outras carnes). Com base nos abates das espécies bovina, suína e avícola estima-se que a produção de todas as farinhas seja de aproximadamente 2,90 milhões de toneladas/ano; de todas as gorduras semelhantes a 2,13 milhões de toneladas/ano e de 233 mil toneladas/ano de farinha de penas. Isso tem um valor econômico significativo, superando os R$ 2,5 bilhões/ano. Uma grande parte desse valor é agregada na indústria de rações, a qual equivale a mais de R$ 20 bilhões/ano. Por isso, toda consideração que se faça aos subprodutos de origem animal, deve se ter em mente o que representam para o país. Evidentemente que, defende-se a melhoria da qualidade dos subprodutos de modo a tratá-los como ingredientes e não commodities, sempre levando em consideração a qualidade nutricional e sanitária dos ingredientes. (Bellaver et al., 2005).
Processamento das FOA
O processo básico de produção de farinhas animais consiste na retirada dos excessos de água, picar e/ou triturar os resíduos não comestíveis de matança, quando isso for necessário devido ao tamanho das peças, levá-los aos digestores para cocção com ou sem pressão, por tempo variável dependendo do processo, sendo a gordura drenada, prensada ou centrifugada e o resíduo sólido moído na forma de farinha com especificações de granulometria variáveis. Benati (s.n.t.) indicou vários pontos onde a qualidade das farinhas pode ser prejudicada, os quais se seguem
a) Umidade: Sendo superior a 8 % poderia facilitar a contaminação bacteriana, com umidade muito baixa, indicaria a queima do ingrediente no processo. A queima poderia estar associada ao desgaste do equipamento, excessivo tempo de retenção e/ou mau funcionamento de manômetros e termômetros;
b) Textura: Na composição da farinha entram em quantidades variáveis os ossos que são de difícil trituração, mas que podem ser segregados pedaços maiores para remoagem e manutenção de granulometria adequada. A textura ideal seria sem retenção em peneira Tyler 6 (3,36 mm), no máximo 3% de retenção na Tyler 8 (2,38 mm) e no máximo 10 % de retenção na peneira Tyler 10 (1,68 mm);
c) Contaminações no processo: Sangue, penas, resíduos de incubatório, cascos, chifres, pêlos, conteúdo digestivo são contaminantes físicos nos quais devem ser minimizadas em função da definição de cada produto produzido e manutenção dos padrões de qualidade;
d) Contaminações com materiais estranhos: Em geral são associadas a falta de equipamentos adequados ou fraude e visam produzir subprodutos de baixo preço e sem qualidade. Deveriam aqui ser considerados a não inclusão de animais mortos, de nenhuma procedência;
e) Tempo entre o abate e o processamento: Está se tornando muito importante devido ao aparecimento de novos processadores independentes. O processamento deve ser feito preferencialmente em seguida ao abate ou sempre dentro das 24 horas seguintes ao abate, evitando assim a putrefação e oxidação das gorduras.
f) Farinha de penas hidrolisadas
É o produto resultante da cocção, sob pressão, de penas limpas e não decompostas, obtidas no abate de aves, sendo permitida a participação de sangue desde que a sua inclusão não altere significativamente a sua composição média.
Para entendermos melhor o uso de Farinhas de Origem Animal na produção de ração, temos que saber a composição desse ingrediente, o que ela proporciona na nutrição dos animais que faz a diferença na hora da formulação, e para isso temos que conhecer os aminoácidos essenciais e não essenciais.
Aminoácidos Essenciais: é aquele aminoácido que deve, necessariamente, estar contido na dieta porque o corpo do animal não pode sintetizá-lo ou sintetiza-o em quantidade insuficiente para preencher as suas necessidades nutricionais. Este conceito é utilizado apenas para monogástricos, uma vez que os ruminantes, através de sua flora ruminal, sintetizam todos os aminoácidos necessários a partir de qualquer fonte proteica ou de nitrogênio não proteico.
São aminoácidos essenciais: Arginina, Fenilalanina, Histidina, Isoleucina, Leucina, Lisina, Metionina, Treonina, Triptofano, Valina, Glicina (para aves).
Aminoácidos não Essencial: é todo o aminoácido que não precisa constar na dieta pois os animais conseguem sintetizá-lo a partir de outros aminoácidos em quantidade suficiente para suprir suas necessidades nutricionais.Todos, porém, são essenciais aos animais.
São aminoácidos não essenciais: Ácido aspártico, Ácido glutâmico, Ácido hidroxiglutâmico, Alanina, Cistina, Citrolina, Hidroxiprolina, Norleucina, Prolina, Serina, Tirosina, Glicina (exceto aves).
Aminoácido Semi Essencial: ele não é sintetizado em quantidade suficiente quando o animal é jovem, devendo ser adicionado na dieta. É o caso da arginina e Triptofano em aves e suínos em crescimento. Estes aminoácidos passam a ser não essenciais quando o animal é adulto.
Aminoácido Limitante: é o aminoácido essencial que pode se tornar problemático na formulação de rações, considerando-se que os alimentos normalmente utilizados na composição das rações são pobres neste elemento. Isto também está relacionado com as exigências de cada espécie animal. É o caso da lisina e metionina para as aves, quando se usa apenas milho e soja na formulação da ração.
Qualidade da Proteína: refere-se à quantidade e proporção de aminoácidos constituintes da proteína.
Teor de Aminoácidos Essenciais de Alguns Alimentos
Alimentos | Proteína | Arginina | Histidina | Isoleucina | Leucina |
Alfafa, Farinha (17% prot.) | 17 | 0,71 | 0,44 | 0,80 | 1,14 |
Algodão, farelo | 41 | 3,93 | 0,98 | 1,57 | 2,67 |
Amendoim, farelo (solv.) | 47 | 5,90 | 1,20 | 2,00 | 3,70 |
Arroz, farelo | 12 | 0,49 | 0,15 | 0,40 | 0,55 |
Aveia | 12 | 0,69 | 0,28 | 0,55 | 0,86 |
Carne, farinha (60% prot.) | 60 | 3,79 | 1,68 | 2,94 | 4,87 |
Carne e Ossos, farinha. | 50 | 3,59 | 0,81 | 1,65 | 29,40 |
O custo na Formulação de Ração:
Muito se fala na redução de custo na hora da formulação de ração quando se utiliza ingredientes de origem animal. Mas a questão é que estamos pagando pela quantidade de proteína que a matéria prima possui, comparando em valores atuais temos:
Alimentos | Preço – R$/Kg |
Algodão, farelo 38% | 0,90 |
Aveia | 2,56 |
Farelo de Arroz | 0,90 |
Carne, farinha (60% prot.) | 1,30 |
Carne e Ossos, farinha. | 1,15 |
Em questão de preço não temos uma disparidade muito grande, mas a grande questão é na quantidade de uso desses ingredientes para poder alcançar a mesma quantidade de aminoácidos essenciais que precisamos ter na formulação. Vou tomar por base dois dos aminoácidos citados acima para fazermos um comparativo:
Alimentos | Arginina | Leucina |
Algodão, farelo 38% | 3,93 | 2,67 |
Aveia | 0,69 | 0,86 |
Farelo de Arroz | 0,49 | 0,55 |
Carne, farinha (60% prot.) | 3,79 | 4,87 |
Carne e Ossos, farinha. | 3,59 | 29,40 |
Analisando os componentes vamos imaginar o quanto de Aveia e Farelo de arroz eu teria que colocar em uma formulação para ração de equinos, caso não fosse possível usar a farinha de carne e ossos para atingir o recomendado de Leucina na formulação. Mesmo se juntarmos os três ingredientes de origem vegetal eles não correspondem a 15% do valor de um ingrediente de origem animal.
Vamos pensar um pouco, se um cliente fosse adquirir uma fábrica para produção de ração para cavalos hoje e fosse analisar qual a situação o faria economizar mais dinheiro na compra dos equipamentos. Com certeza a mistura de ingredientes de origem vegetal e animal fariam com que ele economizasse mais do que se ele fosse utilizar somente ingredientes de origem vegetal.
A resposta está relacionada com as densidades dos ingredientes, veja no quadro abaixo:
Alimentos | Densidade Ton/m³ |
Algodão, farelo 38% | 0,30 |
Aveia | 0,40 |
Farelo de Arroz | 0,30 |
Carne, farinha (60% prot.) | 0,70 |
Carne e Ossos, farinha. | 0,70 |
Caso o cliente quisesse uma fábrica de ração farelada com produção de 10 Ton/h, eu teria a seguintes situações:
- Formulação somente com origem Vegetal: O cliente teria que comprar uma caçamba de pesagem e misturador de 1.500Kg/batelada, isso se deve ao fato de esses ingredientes terem baixa densidade, ou seja, vão ocupar mais espaço para obter a uma pesagem de 1.000Kg/batelada.
- Formulação ingredientes de origem vegetal e animal: O Cliente poderia trabalhar tranquilamente com equipamentos (caçamba de pesagem e misturador) de 1.000Kg/bateladas como têm variação de densidades esses ingredientes se misturam e se acomodam melhor dentro dos equipamentos.
O resultado disso é uma economia de aproximadamente 20% na caçamba de pesagem e de 35% no misturador. Isso pensado em uma variação de apensa 500 Kg/batelada, é uma fábrica pequena.
Vantagens econômicas do uso de farinhas de origem animal
O conhecimento atual na formulação de dietas para não ruminantes prevê um balanço teórico dos aminoácidos em relação à lisina da dieta, sendo que os cálculos de fórmulas com base na proteína ideal (PI) devem considerar além da exigência por nutriente digestível, a digestibilidade dos aminoácidos nos ingredientes. A formulação com base na PI será tão mais eficaz, quanto mais forem os ingredientes alternativos ao milho e ao farelo de soja. Com o objetivo de comparar formulações de dietas utilizando o conceito de PI e farinha de vísceras (FV) em substituição ao farelo de soja, em dietas de frangos de corte Bellaver et al. (2001), conduziram experimento com frangos concluindo que a formulação com a inclusão de 20 % de FV na fase inicial e 25 % na fase de crescimento de frangos de corte, em substituição ao farelo de soja, melhorou o desempenho até os 21 dias e não alterou o desempenho até os 42 dias, em dietas formuladas dentro do conceito de PI. Algumas simulações foram feitas com alternativas ao farelo de soja substituído por farinhas de carne e de vísceras com aves nas fases pré-inicial e final e com formulações a base de AA (aminoácidos) digestíveis, e há possibilidade de incluir entre 8 e 18% com consequente redução dos custos de formulação (entre 7 e 21%). A redução de custo tende a ser menor com aminoácidos digestíveis do que com AA totais. Entretanto a expectativa de ganhos e melhoria da eficiência alimentar será maior com aminoácidos digestíveis. Além disso, as formulações dependem da categoria de animal para a qual está sendo proposta havendo vantagens maiores para aves de corte.
Melhor Palatabilidade:
Até o presente momento só achei um trabalho cientifico no qual fez a comparação da ração de frango contendo farinha de peixe em comparação com o farelo de soja, nos testes sensoriais os provadores não souberam diferenciar uma carne de outra, revelando um resultado insignificante na utilização de proteína animal para melhor o sabor da carne de frango e peixe, nesse mesmo estudo houve até um fator negativo relativo a textura da carne, pois as que possuíam farinha de carne se revelaram mais dura, segundo os provadores.
Por outro lado pessoas que degustam carne, principalmente de peixe, relatam uma melhora no sabor da carne quando esta foi alimentada com uma ração na qual possuía farinha de origem animal. Até que surjam novas pesquisas, esse item ficará em aberto para que cada um possa contribuir com as suas opiniões, eu particularmente acredito que a farinha de carne possa contribuir com uma melhora no sabor da carne de peixe e de outros animais alimentados com as farinhas de origem animal.