Outro ingrediente que iremos analisar são os óleos e as gorduras que ao longo do tempo sofreram variação de uso dentro da indústria. Essas mudanças têm ocorrido principalmente devido por conta da melhoria dos equipamentos na qual irá fazer a aplicação desse produto.
Há cerca de 50 anos, descobriu-se a existência de ácidos graxos essenciais para certas espécies animais, como cães, suínos, aves, bezerros e cabras, sendo então possível desenvolver experimentalmente sintomas de deficiência. No geral, foram observada descamação da pele, necrose de cauda, reprodução e lactação prejudicadas, crescimento retardado e, às vezes, morte. O ácido araquidônico, linoléico e linolênico corrigiam a deficiência, pelo menos parcialmente. O ácido araquidônico é considerado como metabolicamente essencial, enquanto os ácidos linoléico e linolênico são nutricionalmente essenciais, isto é, precisam estar presentes na dieta.
O uso de gorduras nas rações permite que sejam utilizados materiais poucos energéticos e de baixa palatabilidade, normalmente de preços baixos. A combinação desses produtos com a gordura resulta em um produto final que, energeticamente, pode ser comparado com os melhores grãos. As gorduras contribuem na dieta animal com outras funções além do seu alto valor calórico, como o fornecimento de ácidos graxos essenciais e de vitaminas lipossolúveis e o baixo incremento calórico dessa fonte de energia. Além disso, pesquisas têm demonstrado que as gorduras podem melhorar a utilização da energia e a digestibilidade de outros componentes das rações por meio de interações que não são ainda bem conhecidas. Têm sido demonstradas que, em mamíferos e em aves, as gorduras são potentes inibidoras do esvaziamento gástrico e que este é um importante controlador da taxa de passagem dos alimentos e, portanto, de sua utilização. Assim, o efeito extra calórico da gordura suplementada sobre os valores de energia metabolizável das dietas pode resultar dessa redução na taxa de passagem, o que faz com que a digestibilidade das dietas aumente.
Existe outro mecanismo que, provavelmente, contribui para o efeito extra calórico das gorduras, que é o sinergismo entre ácidos graxos saturados e insaturados, em que a formação de micelas e a absorção de gordura total da dieta são melhoradas. Em gorduras altamente saturadas, o efeito extra calórico das gorduras não é observado.
VANTAGENS DO USO DOS ÓLEOS E GORDURAS
Quando a gordura e os óleos foram introduzidos na formulação de rações, não o foi por outra razão senão a de seu conteúdo energético. Assim, várias outras vantagens foram inicialmente negligenciadas, as quais têm, desde então, provado ser muito importantes. São elas:
Redução de custos de produção: Sob o ponto de vista econômico, há de se considerar, no uso de gorduras, o seguinte:
• o valor calórico é 2,25 vezes maior do que de outros alimentos;
• economia de ração, devido à melhoria na conversão alimentar;
• possibilidade de uso de gorduras efetivamente em rações de baixo custo;
• maior velocidade de crescimento com abate dos animais mais precocemente.
Rações de alta densidade no verão: As elevadas temperaturas durante o verão levam a um baixo consumo de ração pelos animais. Para garantir a ingestão dos nutrientes necessários à boa nutrição dos animais, há necessidade de fazer uma ração com elevado teor de energia e alta concentração dos demais nutrientes. Além disso, a gordura possui um baixo incremento calórico, o que também é uma vantagem sob condições de altas temperaturas.
Eliminação da pulverulência: O uso de gorduras elimina a pulverulência, o que tem um duplo efeito benéfico na melhoria da aparência da ração, aumentando a palatabilidade e reduzindo as perdas devido ao pó. O excesso de pó dentro de uma fábrica de ração traz riscos para a segurança do pessoal e é prejudicial à saúde humana.
Redução de consumo de energia elétrica e desgaste da maquinaria: Tem sido demonstrado que o uso de gorduras nas rações evita o desgaste das máquinas por corrosão, em extrusoras e peletizadoras, facilitando o processo e reduzindo o consumo de energia elétrica.
GORDURAS E ÓLEOS
A distinção entre gorduras e óleos é baseada nas suas propriedades físicas sob temperatura ambiente, gorduras são sólidas e óleos são líquidos. Dois principais fatores químicos estão envolvidos para determinar se um lipídeo é uma gordura ou um óleo. Quanto mais insaturado um lipídeo, mais baixo é seu ponto de fusão. Assim, um lipídeo contendo alto grau de ácidos graxos saturados será sólido à temperatura ambiente; com moderado grau de instauração (O que é uma ligação Saturada), pode tomar-se sólido no refrigerador, enquanto que por alta insaturação pode permanecer líquido no congelador. A insaturação refere-se à presença de duplas ligações no ácido graxo. Outro fator que afeta o estado físico de um lipídeo é o número de átomos de carbono do ácido graxo. Quanto menor é a cadeia carbônica de um ácido graxo, maior é a tendência de o lipídeo ser líquido à temperatura ambiente.
Assim, o óleo de coco é líquido, embora seja quase completamente saturado. Os óleos das plantas tropicais têm ácidos graxos com 12 a 14 carbonos. Em contrapartida, a maioria dos óleos e gorduras tem 16, 18 ou 20 carbonos.
Fontes de gorduras: A maioria das gorduras é de origem animal e as mais comuns são:
• Sebo: O sebo é sólido em temperatura ambiente e seu uso nas rações é menor do que o dos óleos vegetais. Devido ao seu alto grau de saturação, é absorvido menos eficientemente e apresenta menor energia digestível do que os óleos. A adição de lipídeos insaturados melhora a digestibilidade das gorduras;
• Banha: a banha encontrada é de suíno e possui um ponto de fusão mais baixo do que o sebo. A procura por carne magra tem levado a uma oferta cada vez maior de banha para a indústria de ração. Entretanto, em nosso país, ainda é relativamente pequeno o uso de banha em ração;
• Gordura de aves: a gordura de aves é, provavelmente, a melhor fonte de gorduras para ração. Devido à sua digestibilidade, qualidade e sabor, ela é muito usada na fabricação de ração de pequenos animais domésticos, como cães e gatos.
• Óleo de peixe: atualmente há grande interesse no uso de óleo de peixe, tanto na alimentação animal quanto na humana, devido aos efeitos dos ácidos graxos ômega-3 na saúde humana. Estes ácidos graxos possuem cadeia longa, sendo os mais comuns o eicosapentacnóicos (20: 5 Ω 3) e o docosahexacnóico (22 : 6 Ω 3), que quando presentes na dieta humana, reduzem os efeitos prejudiciais do colesterol,
• Óleos vegetais: no mercado existe grande variedade de óleos, embora a competição com a indústria de alimentos humanos os torne antieconômicos para uso em rações. Dos óleos mais comuns, como o de milho, algodão, soja, oliva, girassol, canola, amendoim e arroz, o de soja tem mais baixo preço e tem participado das rações experimentais.
PROBLEMAS ASSOCIADOS COM O USO DE GORDURAS E ÓLEOS
Os lipídeos contêm ácidos graxos insaturados susceptíveis ao desenvolvimento de rancidez. A rancidez é o processo pelo qual o oxigênio reage com a dupla ligação, produzindo peróxidos e radicais livres, que são quimicamente muito reativos. Os produtos da rancidez têm um odor característico, o que afeta a palatabilidade dos alimentos e pode ser tóxico. A rancidez causa a destruição de algumas vitaminas, particularmente as lipossolúveis. Os óleos vegetais são mais susceptíveis do que o sebo, porque a rancificação é um processo que envolve dupla ligação. A rancidez pode ser prevenida ou reduzida por meio da adição de antioxidantes nas gorduras e nos alimentos. A vitamina E é o principal antioxidante natural, embora existam antioxidantes sintéticos, como o etoxiquim (santoquim), hidroxianisol, butilado (BHA) e hidroxitolueno butilado (BHT).
Nos grãos, o óleo está protegido contra a rancidez, porque fica compartimentalizado na estrutura celular. Quando o grão é moído para fazer a ração, torna-a susceptível à rancidez. Grãos e sementes como a soja possuem a enzima lipoxidase (lipoxigenase), que estimula a rancidez. Quando a semente é moída, esta enzima e o óleo são misturados e a rancidez ocorre rapidamente. O aquecimento da semente de soja reduz a susceptibilidade à rancidez porque inativa a lipoxidase.
USO DE ÓLEOS E GORDURAS
Os óleos e gorduras são adicionados em níveis de 3% a 5% da dieta. Altos níveis de gordura podem comprometer a estrutura da ração, tornando-os frágeis ou dificultando a expansão e cozimento. Independente dos problemas citados, dietas com altos níveis de gordura são perfeitamente p
alatáveis e bem aceitas. O limite superior de inclusão das gorduras na dieta é determinado pelo fabricante de ração (custo) e pelos problemas de manejo da mesma, e não pelo nível de aceitação dos animais. Os monogástricos regulam seu consumo de ração para suprir suas exigências em energias. Se a ração contém baixa energia, eles aumentam seu consumo, para compensar. Se a energia é alta, eles reduzem o consumo. Assim, quando são usados altos teores de gordura na dieta, a concentração de proteína e de outros nutrientes precisa ser aumentada.
Fonte: Uso de óleos e gorduras nas rações Prof. Roberto Maciel – Link para o Artigo Completo